Quando se ouve falar em adequar lares para idosos logo se pensa em remover tapetes da sala e colocar barras de apoio dentro do box do banheiro. Isso, apesar de importante, não é suficiente. Para realizar essa adequação do lar é necessário entender o processo de envelhecimento, seus impactos nas atividades da pessoa dentro de casa e como podemos auxiliar na interação pessoa/atividade/espaço físico. Nesse post, darei ênfase no quesito visão.
O processo de envelhecimento resulta em uma redução da capacidade física da pessoa, que inclui, dentre outras coisas, a diminuição da visão. As suas consequências são a diminuição da sensibilidade ao contraste e para ajustar à variação de luminosidade, diminuição da capacidade de acomodação entre a visão para longe e para perto, dificuldade de discriminação de cores devido ao amarelecimento do cristalino e diminuição na adaptação ao escuro. Essas perdas, junto com a redução da capacidade do restante do sistema proprioceptivo, está diretamente relacionado com a redução da capacidade de realização das atividades da vida diária (AVD) e no aumento do risco de queda.
Para mitigar os efeitos da perda vinda do envelhecimento dos olhos, algumas alterações específicas dentro do lar se fazem necessárias. Aqui, citarei algumas:
- Iluminação de banheiro, escadas e cozinha: esses espaços merecem uma atenção especial, pelo maior risco de queda. É importante fazer um projeto de iluminação que, apesar de deixar os ambientes bem iluminados, evita o ofuscamento através de reflexos em superfícies brilhantes ou espelhadas.
- Luz noturna: a instalação de uma luz noturna, preferencialmente com sensor de movimento, pode ser um grande aliado quando o idoso precisa ir ao banheiro no meio da noite. Sua luminosidade deve ser suficiente para iluminar o caminho sem ofuscar.
- Luz de emergência: ítem muito importante para qualquer residência. Em caso de queda de energia, minimiza os riscos vindos da necessidade de adaptação rápida ao escuro.
- Adesivagem de box transparente: aqui a questão vai além do envelhecimento da visão, mas também da perda cognitiva. Não é incomum do idoso esquecer que estava com a porta do box fechada e tentar sair sem abri-la, podendo causar acidentes sérios. Para aumentar a percepção de que a porta está fechada, a colocação de adesivos no box pode ajudar muito.
- Contraste de cores: usar cores contrastantes para identificar mudança de nível, como o contraste de cor entre piso e parede, portas, espelhos de escadas e pratos e toalhas. Evitar o uso de azul, verde e lilás juntos, que são mais difíceis de dissernir com o amarelecimento do cristalino.
Essas mudanças no lar podem parecer um excesso de zelo, ou até mesmo desnecessárias para um idoso ativo e independente. No entanto, avaliando a condição dos moradores e a melhor forma de implementar cada solução, podem trazer um conforto que nem sabíamos que precisávamos ou que era possível.
Julia Trevisan
MSc em engenharia
Referências Bilbiográficas:
BARROS, C. F. M. Casa Segura: uma arquitetura para a maturidade. PoD Editora, Rio de Janeiro, 2000
MILANI, D. A. O quarto e o banheiro do idoso: estudo, análise e recomendações para o espaço do usuário residente em instituição de longa permanência. 2014. 110 f. Dissertação de mestrado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014
YOSHIDA, D. M. Instrumento para avaliar a acessibilidade espacial na habitação destinada a moradores idosos. 2017. 203 f. Dissertação de mestrado - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadua Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, 2017
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