A possibilidade de queda de pessoas mais maduras deve ser considerada com muita seriedade. Infelizmente, queda é o principal motivo hospitalização e morte por trauma de pessoas com mais de 65 anos, e está associado com aumento de mortalidade prematura, perda de independência e necessidade de institucionalização. Além disso, o próprio medo da queda pode resultar em uma redução de mobilidade e, consequentemente, na redução da condição física, aumento de isolamento social e depressão. Já falamos dessas questões no nosso blog.
Com isso em mente, muitas pessoas já estão conscientes da importância de se ter uma casa adequada para os idosos e, a primeira coisa a se fazer é remover TODOS os tapetes. Mas, isso está certo? Você removeria todos os tapetes da sua casa sem problemas? E, no caso de parentes idosos, eles topariam fazer isso tranquilamente?
Benefícios dos Tapetes:
Os tapetes têm a sua importância, senão não faria sentido ninguém ter tapetes em casa, não é mesmo? Além de servirem como elemento decorativo os tapetes têm as seguintes funções:
✅ Conforto térmico: principalmente em climas mais frios, o tapete serve como um isolante térmico em casas com pisos cerâmicos. Para essa função, também é usado nos banheiros da maioria das casas para não sofrermos choque térmico de pisar no azulejo frio depois de um banho quente;
✅ Conforto acústico: assim como estofados e cortinas, os tapetes ajudam a não refletir o som do ambiente. Assim, reduzem ecos e deixam o som “mais limpo” para nossos ouvidos. Isso é muito importante quando estamos ficando mais velhos, quando nosso sistema auditivo não trabalha mais como antes ou no caso de pessoas portadoras de demências, que não conseguem distinguir entre sons importantes e barulhos;
✅ Sensação de aconchego: nada como pisar com os pés descalços em um tapete;
✅ Memórias afetivas: alguns tapetes podem ter um significado muito importante na história da pessoa, como o tapete onde os filhos e netos costumavam brincar ou um tapete trazido de uma viagem exótica. Assim, a sua remoção pode também trazer um prejuízo para a memória da pessoa. Em caso de pessoas portadoras de demência, a remoção do tapete pode até trazer uma descaracterização do cômodo e a pessoa pode achar que não está mais em casa;
✅ Delimitação de ambientes: os amantes de decoração sabem que os tapetes são ótimos para delimitar as áreas do quarto ou da sala, mostrando claramente a sala de TV, a sala de estar ou até uma pequena área de jogos (por que não? 😉).
Com tantos benefícios, é necessário realmente removê-los de nossas casas?
Riscos dos Tapetes:
Infelizmente, tapetes trazem sim um risco de queda e esse risco aumenta com a idade, pelas mudanças que vêm no nosso caminhar (marcha), pela perda da massa muscular das nossas pernas e impactos no nosso sistema de equilíbrio (aparelho vestibular).
Um artigo científico publicado em 2013 avaliou 38.000 casos de adultos 65+ que caíram e tiveram atendimento hospitalar por causa de tapetes e carpetes. Esse estudo verificou que 70% a 80% dessas quedas ocorrem dentro de casa, principalmente porque idosos mais frágeis, com um maior risco de queda, passam a maior parte do tempo dentro de casa.
Ainda nesse estudo, maioria das quedas em tapetes ou carpetes aconteceram na transição do piso para o tapete e, em muitos casos, dentro do banheiro. Essas áreas de transição (na borda do tapete ou carpete) normalmente apresentam uma pequena diferença de altura, que podem causar tropeções ou mesmo enroscar bengalas ou andadores. Já quedas em tapetes de banheiro se dão pelo piso escorregadio, tapetes sem uma base antiderrapante e atividades características em banheiro que causam perda de equilíbrio, como sair do box ou banheira e se sentar e levantar da bacia sanitária (você sabe colocar barras de apoio adequadas em locais adequados? Leia mais no nosso blog).
Então, se os tapetes oferecem todos esses benefícios, mas ao mesmo tempo podem oferecer um risco maior a quedas, o que fazer?
Dicas de como ter tapetes minimizando o risco de quedas:
Antes de dar qualquer dica, é muito importante ter em mente que nem todas as dicas se aplicam a todos e que uma avaliação das condições físicas e cognitivas, além da avaliação do tipo de piso são essenciais.
- Tapetes de banheiro devem ter uma base emborrachada (antiderrapante). Como já falamos, o banheiro já apresenta seus riscos, então não podemos colocar ainda mais risco de escorregões. Assim, não é aceitável o uso de tapetes do tipo toalha (que normalmente vem no jogo de toalhas) e qualquer outro tecido que não seja antiderrapante. Se tiver na dúvida se o tapete é ou não antiderrapante, é só tentar empurrar com o pé quando o tapete estiver no chão. Ele não deve escorregar com facilidade;
- Passadeiras em cozinha e área de serviço devem seguir o mesmo princípio dos tapetes de banheiro. Devem ser antiderrapantes e não podem ter as bordas elevadas, coisa que normalmente acontece com o tempo de uso;
- Tapete ao lado da cama podem ser substituídos por um grande tapete que cubra grande parte do quarto, inclusive embaixo da cama. Assim, se reduz o risco do tapete escorregar. Mas atenção para a altura do tapete, que deve ser mais baixo, além de fixar suas pontas embaixo de outros móveis, para não ficar com as bordas elevadas.
- Grandes tapetes. Tapetes baixos, de preferência antialérgicos. Conforme falado no item anterior, deixar as quinas do tapete embaixo de móveis para que as bordas não fiquem elevadas. O uso de fitas dupla face para fixar as bordas no chão são uma opção, mas não são muito eficientes, pois descolam com facilidade;
- Tapetinhos de passagem... esses é melhor evitar. Se não for possível, seguir as mesmas orientações dos tapetes de banheiro;
- Cores muito contrastantes ou padronagens muito diferentes podem gerar alguma confusão, dependendo do grau de declínio da visão e, principalmente, em casos de declínio cognitivo (demências). Assim, é necessário tomar cuidado nessas situações.
No caso de idosos mais frágeis, com maior dificuldade de andar ou que fazem uso de bengalas ou andadores, o ideal é realmente não ter os tapetes no chão. Nesses casos, se o tapete tiver um significado emotivo grande, que tal colocá-lo na parede como um quadro?
Conclusão:
Quando olhamos exclusivamente para o risco de quedas em idosos e as suas consequências absolutamente negativas, a ideia de remover tapetes é 100% acertada. No entanto, é necessário termos em mente de que não existe uma única velhice e que cada um é diferente em suas limitações e condições físicas e cognitivas. Também sabemos que os tapetes têm a sua função em nossos lares e que, algumas vezes, a sua remoção pode causar alguma ansiedade.
Entendendo todos esses fatores, a avaliação de manter ou não os tapetes em casa e como fazer para reduzir os seus riscos pode ser uma solução mais branda de evitar acidentes e estresse.
Julia Trevisan
Msc em Engenharia
Foto: Mrsiraphol no freepik
Referências Bilbiográficas:
BARROS, C. F. M. Casa Segura: uma arquitetura para a maturidade. PoD Editora, Rio de Janeiro, 2000
ROSEN, T.; MACK, K. A.; NOONAN, R. K. Slipping and tripping: fall injuries in adults associated with rugs and carpets, Journal of Injury and Violence Research, v. 5(1), p. 61-69, 2013
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