Você já reparou que alguns produtos são mais fáceis de usar do que outro equivalente? Ou já reparou quando um ambiente é agradável e acessível, enquanto outro pode apresentar alguma dificuldade de acesso apesar de ser visualmente agradável? A diferença por trás do design desses produtos ou espaços está na aplicação dos princípios de design universal.
Mas o que é isso? O termo design universal, ou design for all (design para todos) como é disseminado na Europa, se refere à criação de produtos acessíveis e utilizáveis pelo maior número de pessoas possível, independente de deficiência, idade, sexo, ou classe social. É aquele design de um produto ou de um ambiente que permite que pessoas de qualquer idade ou habilidade possa utilizá-lo, sem a necessidade de adaptação.
Boas aplicações de design universal são de fácil utilização por praticamente toda a população e muitas vezes passam despercebidas. Bons exemplos são designs que servem para homens ou mulheres, crianças ou idosos, pessoas menores ou maiores, pessoas com ou sem alguma deficiência, temporário ou não.
Nessa postagem, vamos falar sobre os seus sete princípios, que foram definidos para servir de guia para o design de produtos, serviços e ambientes. Eles servem tanto para avaliação do que já existe quanto para a criação de novos, e servem de referência tanto para os designers e como para os consumidores quando se trata de produtos, serviços e ambientes que possam ser utilizados por todas as pessoas. Vamos entendê-los um a um:
1️⃣ O primeiro princípio é o do USO EQUITATIVO, que significa que o design possa ser usado por pessoas com habilidades diversas, sem segregar ou estigmatizar o usuário. Um rebaixo de calçada permite que ela seja acessada por uma pessoa em cadeira de rodas e também por qualquer outro pedestre, e o mesmo vale para a porta de uma loja que se abre automaticamente para qualquer pessoa que se aproxime, seja ela um pedestre ou uma pessoa em cadeira de rodas, ou uma criança ou um adulto.
2️⃣ O segundo princípio é o da FLEXIBILIDADE DE USO para diversas habilidades ou preferências do usuário. Um exemplo neste caso pode ser um produto que sirva igualmente para pessoas canhotas ou destras. Tesouras com cabos simétricos e um mouse de computador também simétrico podem ser usados da mesma maneira com a mão esquerda ou com a mão direita, mas uma câmera fotográfica cujos botões são do lado direito não permitem seu uso com a mão esquerda.
3️⃣ O terceiro princípio é o de USO SIMPLES E INTUITIVO, de um design que seja fácil de entender, sem a necessidade de conhecimento ou experiência adicional ou mesmo outra língua. Uma esteira rolante no corredor do aeroporto ou uma escada rolante são produtos intuitivos e de uso simples, assim como uma placa cujo símbolo indique a saída de emergência também pode ser intuitiva e ser entendida independentemente da língua do usuário.
4️⃣ O quarto princípio é o da INFORMAÇÃO PERCEPTÍVEL, deixando clara a informação em diversas condições do ambiente ou de habilidades sensoriais do usuário. Especialmente em ambientes de grande circulação de pessoas, esse princípio faz diferença quando se usa sinalização redundante para passar uma informação importante para as pessoas que passam pelo local usando diferentes meios, seja visual, tátil ou sonoro. Por exemplo, um aviso de emergência que seja tanto visual (luz) como sonoro (sirene) é eficiente para pessoas sem deficiência das duas maneiras, mas também é eficiente para pessoas com deficiência auditiva e para pessoas com deficiência visual.
5️⃣O quinto princípio do Design Universal é o da TOLERÂNCIA A ERROS, que minimiza riscos e consequências não desejadas. Um exemplo simples é um cabo de celular do tipo USB-C que pode ser encaixado independente da sua posição, se encaixando da mesma maneira se estiver virado para cima ou para baixo devido à sua simetria. E ainda há opções de USB com o encaixe magnético, que oferecem ainda mais facilidade e permitem o encaixe mesmo com movimentos menos precisos. A chave do carro é outro bom exemplo, já que pode ser inserida em ambas as posições, evitando falha ao se encaixar a chave no painel do carro, que em muitos modelos costuma ficar atrás do volante e fora do ponto de visão do motorista.
6️⃣O sexto princípio é de BAIXO ESFORÇO FÍSICO, de forma que o design possa ser usado confortavelmente e eficientemente com o mínimo de esforço, sem necessidade de movimentos repetitivos ou aplicação de muita força física. Uma torneira em formato de alavanca facilita o uso por pessoas que apresentem alguma dificuldade de movimento nos membros superiores ao mesmo tempo em que também é mais confortável para quem não tem a mesma restrição. Maçanetas de porta em alavanca apresentam o mesmo princípio, e são mais fáceis de usar que maçanetas em formato esférico, especialmente na porta do banheiro quando girar uma maçaneta esférica com a mão molhada pode exigir muito mais esforço físico. E mesmo no lado tecnológico da casa, soluções automatizadas com assistentes pessoais, como a Alexa ou a Siri, permitem a execução de algumas tarefas à distância apenas com o esforço do comando de voz. E podemos ainda relembrar os cabos USB com entrada magnética que falamos ali em cima e que permitem colocar o celular para carregar sem muito esforço para encaixar.
7️⃣O sétimo e último princípio se refere a ESPAÇO E DIMENSIONAMENTO ADEQUADOS PARA ALCANCE E USO independente do tamanho do corpo do usuário, sua postura ou sua mobilidade. Neste princípio, é essencial que haja espaço suficiente para o usuário se aproximar, alcançar e manipular. Objetos e comandos devem ser visíveis e alcançáveis, seja por uma pessoa em pé ou em cadeira de rodas, e os espaços devem ser suficientes para uma pessoa obesa ou magra ou em cadeira de rodas.
Em se tratando de uma residência, tanto produtos que são usados dentro de casa quanto o próprio projeto do ambiente podem conter aplicações de Design Universal. Um equipamento doméstico, como, por exemplo, um fogão ou uma geladeira, ou até mesmo o leiaute da cozinha pode trazer benefícios aos moradores se seguir os princípios do Design Universal. Um produto ou um espaço que siga ao menos alguns dos princípios é capaz de atender com mais facilidade uma gama maior de pessoas, independente de sua estatura ou condição física, por exemplo.
Vamos analisar o caso da geladeira de pessoas com diferentes estaturas. Alguns designs mais tradicionais de geladeira no formato duplex com a porta do freezer na parte superior não atendem com a mesma facilidade uma pessoa mais alta e uma pessoa com baixa estatura ou uma criança ou uma pessoa em cadeira de rodas. Já um modelo do tipo invertido, com freezer na parte inferior, facilita o alcance da área do freezer e apresenta maior facilidade de uso para estes públicos. Neste exemplo, podemos entender a vantagem do uso do primeiro, do segundo, do sexto e do sétimo princípios.
Da mesma forma, o ambiente projetado ou adequado segundo os princípios do DU também pode trazer benefícios. Pessoas mais altas podem alcançar prateleiras e portas mais altas do armário, mas uma pessoa mais alta que tenha sintomas de artrite ou artrose vai se beneficiar de espaços mais baixos, da mesma forma que outra pessoa com estatura menor ou em cadeira de rodas.
É importante lembrar que todas as pessoas podem se beneficiar de produtos ou ambientes mais acessíveis, independente da idade! Em qualquer momento da vida, uma pessoa pode vir a se deparar em uma situação de mobilidade reduzida. Provavelmente você conhece alguém que já passou por um momento desses, seja devido a uma cirurgia, uma perna ou um braço quebrado, e se viu dependente de outras pessoas na própria casa porque o ambiente não estava preparado para a situação. Por isso, ao projetar ou adaptar os espaços, é importante considerar os princípios de DU, em especial o sétimo princípio e propiciar espaços suficientes para que o usuário possa utilizar o ambiente, seja sozinho ou com ajuda de outra pessoa.
Produtos e serviços que tenham aplicação dos princípios de DU permitem o uso por um grupo maior de pessoas, oferecem acesso mais universal e mais independência a mais pessoas. Suas vantagens acabam passando despercebidas pela maior parte das pessoas, especialmente pelo público mais jovem, mas ficam mais claras ao longo do envelhecimento ou quando a pessoa se vê em condições de restrição temporária de mobilidade.
Criado na década de 1990 na Universidade Estadual da Carolina do Norte nos Estados Unidos, o The Center for Universal Design foi o responsável pela consolidação dos princípios do Design Universal com a missão de melhorar ambientes construídos e produtos para permitir o uso para todos os usuários, permitindo a pessoas com ou sem deficiência o uso dos mesmos espaços e produtos.
É sempre bom lembrar que os benefícios de produtos ou ambientes mais acessíveis são para todas as pessoas, e não apenas para idosos ou pessoas com deficiência. Pode-se tomar vantagem da comodidade e independência oferecidas pelo Design Universal com qualquer condição física e em qualquer idade.
Ao projetar ou adequar um ambiente residencial, a preocupação com o uso dos sete princípios do Design Universal pode fazer a diferença entre uma residência mais ou menos adequada para o seu morador. Com o avanço da idade, problemas de saúde ou mesmo restrições temporárias de mobilidade, todas as pessoas podem se beneficiar de um ambiente e de produtos que sejam mais simples de usar e acessíveis.
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Alexandre Rocha
Msc em Engenharia
Doutorando em Engenharia
Foto: Freepik
Referências Bilbiográficas:
STORY, M.F. (1998) Maximizing Usability: The Principles of Universal Design, Assistive Technology, 10:1, 4-12, DOI: 10.1080/10400435.1998.10131955.
Story, Mueller, Mace. The Universal Design File - Designing for People of All Ages and Abilities. The Center for Universal Design. NC State University. Raleigh, 1998.
ROCHA, A. M. Modelo para o desenvolvimento conceitual de produtos de tecnologia assistiva para o setor de transporte aéreo. 2017. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. doi:10.11606/D.3.2017.tde-26092017-134757.
Meu primeiro contato com o tema Design Universal foi hoje, aqui neste blog. Estou maravilhada em saber como podemos melhorar a vida das pessoas ao nosso lado (minha mãe de 81 anos) e a nossa própria vida.
O conhecimento nos torna independentes.
Muito feliz com esse post!